Sei que morava em frente à praça, num vértice de um triângulo equilátero, entre a Igreja e a praça. Ali estava nosso saudoso lar. Dentro daqueles l80º equiláteros, tentei a todo custo viver meus 360º circulares de minha juventude rebelde. "Zé Luiz, você vai pra praça assim, todo despenteado, com a camisa desbotoada? Quando você ficar rapazinho, duvido se agirá assim!" A voz de mamãe ecoa, como se fosse agora. Rapazinho, homem, maturidade. Danielle/Valcimar e Rodrigo; Thiago/Ana e Matheus. "Zé Luiz você vai pra praça assim?....." Como tudo passou tão depressa. Andei por todos os caminhos e escrevi odisséias, ilíadas, divinas comédias, lusíadas pela vida afora.
"Zé Luiz, você vai pra praça assim?..." Não só para a praça, para a vida, despenteando e desabotoando a camisa e não mais que um chinês, onde toda a minha estrada reduziu-se a um fio de alfinete e toda a minha história escrita na cabeça deste alfinete. Tudo passou rapidamente no círculo circunscrito além da praça, da igreja e de minha casa com mamãe perguntando a dúvida mais sagrada de minha vida, até agora no meu coração e na minha alma. Este eterno presente em que escrevo este conto, sopra folhas secas ao vento e abre as cortinas da permanência, da imanência. Passado e futuro são os únicos ingredientes em que posso parar e pensar neles profundamente. Preciso de voltar aos meus catorze anos e dizer para mamãe que a praça sou eu mesmo. Mesmo sofrendo de Alzheimer, mamãe tem na sua memória o brilho dos meus olhos. Através deles haverá de compreender que andei pelo diâmetro de um círculo com tanta liberdade que ele se transformou na sua circunferência. Entenderá meus múltiplos eus: um profeta, um poeta, um guerreiro, um rabino, um anarquista no bom sentido, e que só posso me encontrar com eles em mim mesmo, no meu inconsciente, onde reina uma aurora primaveril, entre canteiros e flores, entre arvoredos cheios de lacerdinhas(insetos que nos incomodavam, pois quando caiam sobre nós, provocava uma terrivel coceira), entre bancos com outros eus sentados, contemplando a vida láctea com bilhões de estrelas. GEBURAH !
Se a matemática encontrou a fórmula para representar grandes idéias, encontrei na minipalavra uma forma de representar contos e poesias. Procuro extrair perfume das palavras e as colho pelos pólens de suas sílabas. Sou um caçador/coletor da era digital e digo que não é tão fácil, nem tão simples assim a caça e a colheita de minicontos. Exige aprimorar o conhecimento, para que a envergadura do arco não seja frágil e a descoberta das estações não fique em vão.
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Como é bom fazer parte da sua praça, da sua estrada, da sua história... AMEI
ResponderExcluirDani