MINIPALAVRA
Se a matemática encontrou a fórmula para representar grandes idéias, encontrei na minipalavra uma forma de representar contos e poesias. Procuro extrair perfume das palavras e as colho pelos pólens de suas sílabas. Sou um caçador/coletor da era digital e digo que não é tão fácil, nem tão simples assim a caça e a colheita de minicontos. Exige aprimorar o conhecimento, para que a envergadura do arco não seja frágil e a descoberta das estações não fique em vão.
sábado, 4 de dezembro de 2010MINICONTO 67 - "fiat lux!"
Percebeu um estrondo. Olhou em volta. Observou a enorme montanha em sua frente. Um colar de favelas ao seu redor. Meia hora esperando o ônibus na rua debaixo do morrão. Sobre o morrão, em forma de um boné, outro que daria para destruir tudo em volta. Mais um estrondo. Entre um vai e vém de tudo e o resto da rua: "OH!". Silêncio do nada. Antes do OH! foi o OM! Desta vez o verbo ficou para o fim!
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 02:34 0 comentários Enviar por e-mail
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MINICONTO 66 - c'est la vie
Monique levantou-se cedo. Tirou o boneco do berço. Deu dois tapinhas no ombrinho de sua filha para acordá-la. Serviu-lhe o café da manhã com um abraço de mãe e um beijinho na face: "estude direitinho e faça o desenho do ursinho para mim!"
No dia seguinte dá o último beijinho na face da filhinha junto com seu bonequinho e o esboço de um ursinho. A terra cobre tudo. Lá na escola, um monte de escombros aguarda a perícia. Nas bancas, os jornais são vendidos aos montões. Quando a curiosidade é um prato feito, faz do amor um prato sem fundo.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 02:27 0 comentários Enviar por e-mail
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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010MINICONTO E MINIPOEMA: UMA FORMA SINTÉTICA E HOMEOPÁTICA DE SE COMUNICAR NO www.minipalavra.blogspot.com
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terça-feira, 30 de novembro de 2010UMEF JAIRO MATTOS:MODELO EM EDUCAÇÃO/www.sosbrasileiro.blogspot.com(GOOGLE-BLOGGER)
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sexta-feira, 26 de novembro de 2010MINICONTO 65 - angel - lux
Sofia deitou-se cedo, naquela noite chuvosa. A tempestade lavava a praça e dançava como um maestro hiperativo entre as árvores ruidosas. Atende ao celular que está ao seu lado na cama: "Durma com os anjos, meu anjinho amado!". Sofia sobrevoa um prado. Girassóis se inclinam enquanto ela passa. Sente-se um anjo. Não tem sexo, nem é vítima da mortalidade. Não é mais Sofia. Apenas um anjo da guarda a mais no mundo. Está sempre atrás de um senhor de idade. Ele é um dos últimos que ainda acreditam nos anjos. Se ele tropeça, ela o ampara. Quando ele vai sentar-se, ela o segura para que não caia. Ela o ajuda a erguer a taça de café e a comer a torradinha de manhã cedo. Sendo anjo, cumpre seu papel ao lado de quem o invoca. Ajuda-o a passar pela roleta do banco, quando vai buscar sua aposentadoria. Cria uma nuvem negra na frente dos assaltantes para que não o assalte. Ela o guia pelas ruas mal calçadas. De repente ele tem um ataque cardíaco e morre. Sofia acorda. Olha o celular. Dezenas de ligações, pois dois dias se passaram e os parentes ficaram preocupados, pois ela mora sozinha. O namorado que estuda na Irlanda, também lhe passou vários email!s e telefonemas. Atende primeiro à sua mãe: "Ei! Mãe! Estou muito bem. Sou mortal. Como não tenho certeza de nada, vale a pena viver! Não sei se depois desta vida tem outra, ou .... seja como cada religião interprete. Imagine se eu fosse um anjo! Que graça teria? Não saberia o que é o amor entre os sexos! Não haveria pergunta nenhuma a fazer? Não saberia o sabor da dúvida e o saber da busca! Estou bem mamãe. Como é bom ser humano!" A mãe, sem entender nada, exclamou: "Ah! Sofia, você sempre foi exótica assim mesmo! Fique com Deus meu anjo!" Sofia liga a tv com o controle remoto, no jornal do meio dia: "Atenção, morreu nesta manhã, o famoso escritor de contos absurdos, com a idade avançada. Faleceu numa rua deserta, abraçado entre as últimas folhas da primavera!"
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 08:02 0 comentários Enviar por e-mail
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MINICONTO 64 - extra-robôs
Mobil X já conectou vários dados: é um planeta em terceira posição a partir da estrela central, além de ser um mundo rochoso, também é muito denso, formado há quatro e meio bilhões de anos...Tudo começou quando há algumas dezenas de anos, os cientistas resolveram desenvolver sistemas em robôs que interpretassem as estruturas biológicas humanas. No início estas máquinas já mapeavam o espaço, diferenciando frutas, flores, pedras, inclusive com registro de dados totais a respeito de cada coisa, bem como quaisquer redes complexas, como por exemplo as das proteinas. Descobriram
modelos matemáticos que reconhecessem padrões em redes neurais caóticas, ou seja sistemas dinâmicos não lineares, onde não há possibilidade de previsão nas múltiplas probabilidades.
Mobil X é um ultra-robô, resultado de todas estas pesquisas. Possui um sistema que soluciona a teoria do caos, desde quando seus antepassados procuravam desvendar a mutabilidade do vírus da AIDS e o funcionamento do DNA. Desta forma Mobil X se aperfeiçoa como outros milhões de robôs sobre a face do planeta que dominam.
A humanidade após sucessivas guerras e destruição do meio ambiente, mudou as forças gravitacionais do planeta, deformando-o, criando uma fricção em seu interior, aumentando demais a temperatura e o volume do mesmo. Mobil X e suas réplicas organizam sistemas de abrigo para estes seres e providenciam a cada mudança de situação planetária, condições para a produção de alimentos e água.
Os robôs agora estão desenvolvendo naves para transporte em massas dos habitantes, tendo em vista que o planeta está morrendo. Detectaram a novecentos mil anos/velocidade padrão pensamento, um planeta com condições de receber populações em massa, devido oferecer as mesmas possibilidades que o seu. Este planeta tem um atomosfera adequada ao desenvolvimento de organismos,uma camada de ozônio que em conjunto com seu campo magnético anula raios gama X e ondas ultra-viletas, com uma vida prevista para ainda um bilhão e meio de anos. Além disto, seus habitantes estão com um atraso de trezentos anos, mas num ponto ideal, com tempo limite para não repetir a catástrofe pelo qual passou o seu moribundo planeta.
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010MINICONTO 63 - australopitekus modernus
Silva realizou à primeira vista o seu sonho maior. Comprou um apartamento de oitocentos metros quadrados de frente para o mar e no nono andar, fora da barulheira da avenida.
Chega ao varandão e observa o infinito oceano. Ondas se avolumam sobre ondas inquietas num incessante vai e vem. Algumas alcançam alturas sobrepostas a outras menores e depois se dispersam, se misturam e aparecem em outras formas de ondulações infinitas.
Vai ao fundo do apartamento, pesquisa no google sobre saúde e longevidade. Volta à sala, liga a tv a cabo e desanima diante da miríade de programas e filmes. Atravessa a mesma, abre a geladeira, retira um refrigerante, apanha uns pastelzinhos que assa rapidamente no microondas. Retorna ao varandão e baila seu olhar sobre o oceano revolto. Ao longe um navio singra mansamente e desaparece. Vários deles fizeram o mesmo roteiro nesta tarde. O celular toca. Alguém deixa uma mensagem cobrando sua ausência numa festa. Regressa ao computador e compra pelo mercado livre uma filmadora de última geração. De novo na varanda diante do mar... na cozinha diante da geladeira, do microondas.... da televisão....do som....Ah! uma música lhe faz pensar quando diz "eu pescador de mim..." Silva vive a síndrome do homem moderno. No paleolítico e neolítico, o homem era um caçador-coletor para suprir sua sobrevivência. Agora, com tudo nas mãos e um vazio na alma, o homem é um pescador de si, à procura de si, no pânico de encontrar-se um dia, dentro de si mesmo, consigo mesmo.
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quarta-feira, 24 de novembro de 2010MINICONTO 62 - a fantasma da cópula
Quando chovia, ela andava sob sua sombrinha, como uma refugiada de guerra. Soninha, saía esbarrando em todos e tudo e quem quisesse passar, que se desviasse dela.
Quando o dia estava ensolarado, ela tinha sua sombrinha azul, por onde se entricheirava pelas ruelas da vida.
Sua coleção de óculos escuros não tinha fim. Eram óculos enormes que cobriam a metade de sua face e por detrás deles ela desvendava o mundo. Sua timidez era tamanha, que jamais atravessaria qualquer salão, portanto sua segurança maior era dentro de casa, nos feriados e fins de semana. De quando em vez seu rosto aparecia rápido numa janela, mas como seu olhar não percebia nada, não tinha nada para ver, voltava para o interior de sua kitinete, onde morava sozinha. No trabalho não conversava com ninguém. Tinha uma dificuldade enorme de comunicar-se e era ali, onde se cuidava mais de não dizer nada de si, uma vez que naquele lugar se sabia muito sobre ela. Em outros locais se apresentava com outros nomes.
Tornara-se uma morta-viva, ou como queiram, uma semi-morta ou semi-viva, amarelada pelo tempo. Tão desbotada pelos anos como as recordações das pessoas mais velhas, quando em rodas de conversas, lembravam da história de um pai que havia estuprado sua filha e que ninguém nunca mais viu.
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MINICONTO 61 - actualité
A chuva caia torrencialmente. Ela corria tentando galgar o outro lado da rua, onde fica a galeria. O vento leva sua peruca, deixando expostos seus cabelos brancos e ressequidos, tentados mil vezes à amônia cobrir a desvantagem dos anos. A maquiagem derrete e cai pela blusa de nylon. A água desce com muita força, os carros passam jorrando fontes para as laterais. Descolorem as sombracelhas e os cílios retornam ao natural. A meia longa fura, entra água e se despedaça, sobrando as pernas com suas varizes como rios nos mapas. A roupa cola no corpo murcho e envelhecido. Surge uma oportunidade e ganha a galeria. Consegue sentar-se em um banco, toda encharcada. Retira o espelho da bolsa, que é uma lama pura. Vê-se em plena realidade. O que sobrara de todo o aparato para chegar à festa? Poderia pensar o contrário. Sobrou muita coisa. Restou a vida com sua experiência. Regaram histórias em cada marca na face, que são estradas de mil sóis. Os sinos da velha matriz do tempo badalam as horas de encontrar-se os netos. De contar aos filhos as peripécias da vida. De mostrar-se tocada pela existência, mas com uma cantiga tangida pelas cordas do dia a dia de cada ano. Chegou a hora de sair para fora. De deixar-se olhar através das venezianas das rugas, a sua sala de estar interior. De escapar dos lábios uma palavra de sabedoria.
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domingo, 21 de novembro de 2010MINICONTO 60 - res-publicus
Anda rápido pela avenida. Uma hora da manhã, os carros passam silenciosos. Os prédios se alongam intercalando luzes em algumas janelas. Varandas vazias engravidam o luar. Com um prego ele risca vários carros. Com um ferro rasga paredes e vidraças. Chuta as cestas de lixo. Faz dedo para alguns porteiros atentos. Enfia um prego numa fechadura de portão. Encontra alguma coisa para comer numa licheira perto de um bar. Pela madrugada pula na traseira de um ônibus até o pé da favela. Sobe apressado. Desvia dos esgotos abertos. Pula sobre um cão morto. Passa entre varáis. Encurrala-se entre becos. Este é seu mundo. Um vento joga uma folha de jornal sobre um tambor podre. A notícia brilha ao sol: "Governo vai reformar a beira mar com pedras portuguesas". O barraco sempre aberto só espera que ele caia sobre um colchão esfarrapado e durma debruçado sobre a barriga vazia.
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MINICONTO 59 - alienex/consumitrix
A vendedora só escutou o grito: "Isto é um assalto. Não brinque que aperto o dedo. Me dá aquele tênis, meu número é 39. A calça jeans, aquela, já sei, estive aqui ontem e medi. O relógio, aquele lá. A camisa, aquela ali que tem um jacarezinho. O celular, este ali. Agora junte tudo isto aqui que estava usando e coloca naquela bolsa lá, de marca. Sobe na escada e quebra a câmera com este grampeador. Ainda bem que não vem ninguém! Fique calada aí por uma hora e não avise os homens não, pois volto e arrebento os teus miolos!".
Jeremias sai apressado, enquanto uma sirene toca. É o alarme do shoping. Ele avança por outra galeria. Ao longe dois homens de ternos preto vem correndo em sua direção. Atira e acerta a perna de um deles. Desce a escada rolante correndo com a arma na mão. Tudo vira um corre-corre de uma gritaria danada. O pânico é geral. Um senhor de meia idade passa mal. Ganha o estacionamento. É cercado. Inicia o tiroteio. Baleia outro segurança. Uma bala atravessa seu crânio. Chegou ao fim vestido ao rigor, conforme as normas corretas do padrão social dominante. Mais tarde aparece sua mãe. Boa senhora, diarista e evangélica. Nunca imaginava que ele fosse assim. Era até um rapaz caseiro. Assistia a todos os programas de televisão. Acompanhava as novelas. Adorava filmes americanos.
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MINICONTO 58 - national kid
O casamento como um todo foi um espetáculo único pertinente a dois, estendido a todos. O momento do jogar o buquê, sim, este foi o mais longo e esperado. Mas chegou à medida de toda a aflição. A mulherzada se reuniu à frente do casal e a noiva brincava de vai e vém, joga e não joga, enquanto a galera ia para um canto e outro. Foi nisto que Carlos, um pouco bêbado, resolveu ser inédito na vida e entrou no meio da galera. Nisto o buquê voou pelos ares como um míssil e a turma alvoroçou em cima, com Carlos dentro. Não se sabe como na mãozada que ele deu, arrancou uma calcinha azul que escondeu rapidamente no bolso. Mas a dona percebeu. Carlos saiu sem graça para uma grande varanda que dava para um pomar, onde as árvores eram todas do mesmo ramo no meio da escuridão. A moça se aproximou: "Cara, você é o máximo. Quero me casar contigo, se você me prometer pelo menos duas vezes por semana, dar um mergulho igual a este e sair com a minha calcinha na mão!"
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MINICONTO 57 - revisão
Retirou o revólver da gazeta. Conferiu o tambor cheinho. Bam! Todo mundo escutou o tiro que ecoou pelo bairro. Os vizinhos mais perto perceberam o ruído de um corpo caindo no assoalho e um grito. Uma bala perdida cravou no muro de uma escola, que ficou ilhada de medo por duas horas. Um pedaço de sabão salvara a vida daquele homem, que embora no tombo tenha quebrado duas costelas, percebeu que uma bala perdida e um pedaço de sabão, fizeram-no encontrar uma razão para viver. Estava rodeado de pequeninas coisas que tinham enormes condições de ensinar-lhe a buscar uma saída para os grandes problemas que considerava ter.
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MINICONTO 56 - legendário
Agora rema em direção ao norte. Um gavião corta o céu perseguindo uma andorinha em fuga. O vento noroeste sopra de mansinho. Os prédios balançam conforme a maré, com suas janelinhas forradas de solidão. A tarde caminha com uns pingos que caem do chuveiro. Com certeza não deve ter apertado o registro com força.
Rema mais veloz. É preciso desviar das pedras. Juca morreu porque bateu numa pedra rasa. Sabe que as quilhas estão bem firmes. O convés permanece vazio e só encherá à tarde. A proa se assemelha a um quadro de Dali. As adriças são cordas de cortina. O timão fora deslocado para a popa. O leme se adequava a cada movimento.
Levanta, vai até a cozinha para beber água. Volta e senta-se em sua cadeira de balanço. Cada balançar vai passando a limpo as suas lembranças.
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MINICONTO 55 - aquarela
Ana adora a praça. Hoje está sentada, pernas cruzadas, mostrando o ângulo do encontro sensual de suas coxas. Lê um livro, ou melhor, vê mais fotos do que leitura em si. O livro traz fotografias de pessoas em diversas ocasiões e épocas. Um carnaval de 1930 chamou-lhe a atenção um casal de querubins. Nma ruazinha do início do século concentrou-se nos chapéus brancos, assim como nos ternos de casimira. A professorinha de um jardim de infância dos anos 60, em suas mãos com a famosa Cartilha Sodré, deixou-a maravilhada. Viu a inquietude congelada na foto de uma fila de cinema dos anos 50, para assistir ao clássico da época "Os últimos dias de Herculano e Pompéia". Percebeu que a maior parte das pessoas pensava que era uma história de amor.
Ana agora passa os olhos pela praça. Crianças pulam, sobem, escorregam. Mães com brinquedos e vidros de água nas mãos conversam entre si. Um pipoqueiro vende pipocas a minuto, feitas no micro-ondas. Várias pessoas comendo pizzas ao ar livre. Um louco passa sem perceber seus sintomas.
Ana começa a pensar em quantas vezes veio àquela praça. Agora era estava diante da página atual de um livro vivo. Um livro em que as figuras e as palavras vão se escrevendo sem nunca se repetir.
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MINICONTO 54
"Nem Dali, nem André Breton,Freud, Nietzsche, Mallarmé, Kafka, Heidegger, Guillaume Apollinaire, Paul Éluard, Louis Aragon, Jacques Prévert, Antonin Artaud, Juan Miró, Luis Buñuel, Benjamin Péret, Philippe Solpault, Drumond, Pessoa, Borges, Neruda ou seja quem for, que vão para o lixo que eu vou buscar o luxo da vida!" Assim Fernando beirando os trinta, pálido de ler, partiu para a realidade como ele pensava. Embriagou-se nos multifocos das luzes das boates, atravessou ruas noturnas, bebeu com os ébrios, dormiu com todas e confundiu a via láctea com as luzes dos cabarés. Encontrou milionários buscando a felicidade numa garrafa de wisk. Conheceu mulheres desamadas. Trocou emails com amantes desmedidas. Vasculhou o fundo das pensões, enfumaçou os distantes terrenos baldios e se transformou em um novo personagem de um livro de um escritor surrealista que estava pesquisando a súbita realidade.
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MINICONTO 53 - surprise
Abriu a gaveta rapidamente, tirou um retrato amarelado pelo tempo e disse: "Tá vendo, este aqui foi o seu pai! Olha o rosto carrancudo. Semblante fechado não dando espaço nenhum para sair alguma palavra. Braços rígidos, incapazes de abraçar alguém!"
Guardou o retrato na gaveta. Fechou-a demoradamente. Olhou para seu filho. Deu um sorriso. Abraçou-o e disse: "O mesmo tempo que amarelou aquele retrato, foi o mesmo tempo que me amalgamou. Aquele, um dia foi seu pai, este agora é o seu verdadeiro pai!"
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quarta-feira, 17 de novembro de 2010MINICONTO 52 - Zoon z
Levantou-se da cadeira, atravessou o saloon e foi ao banheiro urinar. Voltou, olhou de frente a platéia e pensou: corri mundo, encarei milhares de platéias iguais a estas. Este filme ganhou um oscar, enquanto eu não passo de um simples personagem e caricatura de um ator coadjuvante. Na próxima vez que repetir esta cena, vou ficar lá no banheiro e tenho certeza que não fará diferença nenhuma para o fim do filme. Daqui a pouco o ator principal entra. Ele briga com todo mundo. Dá cambalhotas e o chapéu não cai de sua cabeça. Eu morro com dois tiros. Que diferença faz, se eu passar o resto do filme, sentado lá no banheiro?
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MINICONTO 51
O brutamonte sai cambaleando do bar. O único aperitivo do dia. O seu último trago. O que ficou dentro do bar, com semblante triste, chama o proprietário: "vem cá para você ver ele morrer em segundos". O grandalhão tropeça, cai, bate com as pernas e os braços, se estica e morre. O deprimido volta para o dono do bar e fala: "Nem pra morrer eu sirvo. Coloquei chumbinho na cachaça e quando ia beber, apareceu aquele grandalhão que a tomou de mim e ainda me disse - baixinho e penico é pra ficar dentro de casa! Depois que me roubaram tudo, ainda apareceu um cara para roubar minha morte!"
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MINICONTO 50
Luzia atravessou toda a cidade de vestido e sem calcinha. O cuidado nem se fala. Longe de barata, de rato, não cruzar as pernas na lanchonete, ficar atenta com qualquer pé de vento.... Mas quanto ao Carlos, bem, valeria a pena correr todo o risco de atravessar a cidade desprevenida e mal intencionada.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 14:32 0 comentários Enviar por e-mail
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MINICONTO 96 - explô
MINICONTO 95 - retorno
MINICONTO 94 - dez(esperar)
MINICONTO 93 - transe-única
MINICONTO 92 - continuum
MINICONTO 91 - terremoto
MINICONTO 90 - pânico
MINICONTO 89 - relembranças vivas
MINICONTO 88 - apocalipse
MINICONTO 87 - para onde foram eles?
MINICONTO 86 - tromba d'água
MINICONTO 85 - solidão
MINICONTO 84 - quitutes
MINICONTO 83
MINICONTO 82 - the end
MINICONTO 81 - rosa que não te vejo rubra
MINICONTO 80 - viagem astral
MINICONTO 79 - nueva vereda
UMEF JAIRO MATTOS relembra a era de Pelé e Ronaldo...
MINICONTO 78 - avesso
MINICONTO 77 - viagem
MINICONTO 76 - theoricus
MINICONTO 75
MINICONTO 74
MINICONTO 73
MINICONTO 72 - stella versus piscis
MINICONTO 71
MINICONTO 70
MINICONTO 69 - epilogus
MINICONTO 68 - travessia
MINIPOEMA 15
MINIPOEMA 14
MINIPOEMA 13
MINIPOEMA 12
MINICONTO 67 - "fiat lux!"
MINICONTO 66 - c'est la vie
MINICONTO E MINIPOEMA: UMA FORMA SINTÉTICA E HOMEO...
► Novembro (77)
Quem sou eu
José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem
Escritor, poeta, inspirado pelas luzes dos antigos sábios e ensinamentos sagrados, herdados da Península Ibérica, através dos filhos de Abraão.
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