MINIPALAVRA
Se a matemática encontrou a fórmula para representar grandes idéias, encontrei na minipalavra uma forma de representar contos e poesias. Procuro extrair perfume das palavras e as colho pelos pólens de suas sílabas. Sou um caçador/coletor da era digital e digo que não é tão fácil, nem tão simples assim a caça e a colheita de minicontos. Exige aprimorar o conhecimento, para que a envergadura do arco não seja frágil e a descoberta das estações não fique em vão.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010MINICONTO 82 - the end
Os velhinhos jogam damas no parque. Uma pedra ultrapassa a outra, a outra ultrapassa a outra, a outra ultrapassa a outra, a outra perpassa o carreirão, a outra se faz dama e devora outras que se perfilam descontentes no canto da mesa.
De vez em quando deixa de vir um velhinho, outro velhinho, um velhinho que jogava com outro velhinho, um velhinho que não vem mais devagarzinho.
No fim da vida é como no jogo de damas. As casas se isolam. Só permanece o tabuleiro vazio.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 14:08 0 comentários Enviar por e-mail
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MINICONTO 81 - rosa que não te vejo rubra
Ele pediu que ela parasse um pouco. Inspirou profundamente: "De onde vem este perfume?" Ela respondeu: "Vem de uma rosa!". Ela conduziu-o até ao banco da praça e como de praxe leu para ele várias notícias do jornal. Na volta, ele perguntou: "As outras pessoas sabem que existem rosas?"
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MINICONTO 80 - viagem astral
A nave permanecia inclinada a 23º, com uma rotação de 1650 Km/h e deslizando pelo espaço a 30 Km/s. Andrew observou: umas pessoas andavam com sacolas de compras. Outras sorriam enquanto algumas pareciam demasiadamente preocupadas. Alguns homens bebiam vorazmente na porta do bar. Um senhor esquelético empurrava uma carroça e catava papelões. Umas mulheres observavam uns sapatos nas vitrines.
Todos estavam alí e ninguém estava nem aí.
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MINICONTO 79 - nueva vereda
Paulo levantou-se cedo. Entrou no carro. Estacionou no posto de combustivel. Abasteceu, encheu os pneus e pediu à atendente que lavasse os vidros, pois estavam sujos.
Pagou, saiu, atravessou a pista e percebeu que o vidro da frente tinha umas manchas: "Mocinha porca, deixou restos de sabão no vidro, manchando-o em várias partes." Enquanto dirigia, apanhou uma flanela no porta-luvas, levou a mão esquerda para o lado de fora e tentou limpar as manchas. Porém, não conseguiu retirá-las. Insistiu dezenas de vezes. Em seguida resolveu limpar o vidro por dentro e percebeu que as manchas estavam no lado de dentro do carro e não no lado de fora. Pensou, pensou, refletiu. Chegou ao trabalho. Seu colega de serviço, Pedro, passou por ele e nem sequer lhe deu bom dia. Já faz um ano que os dois não se entendem. Desta vez, Paulo aproximou-se dele e com um sorriso disse: "Bom dia meu amigo, de hoje em diante esqueceremos o passado e viveremos como dois verdadeiros amigos!" À tarde passou em uma vidraçaria e mandou fazer um quadro com a flanela suja do carro.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 13:23 0 comentários Enviar por e-mail
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UMEF JAIRO MATTOS relembra a era de Pelé e Ronaldo. Uma escola de periferia que está se tornando o centro de atrações no mundo educacional: www.francomacom.blogspot.com
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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010MINICONTO 78 - avesso
À primeira vista, todos pensavam que Jorge vivia mudo num canto. Olhos parados e perdidos. Não se interessava por nada. Não conhecia ninguém. Só ele, a janela e o mundo. Mas Jorge não era tão calado assim. Seus interlecutores que o digam. Suas intermináveis conversas não tinham princípio nem fim. Seus discursos duravam horas e anos. Fantasmas que eram expulsos. Dragões sendo degolados. Centopéias multiplicando cabeças cortadas. Furacões atravessando cidades. Centuriões que ele arrastava por sobre avenidas, enquanto a cidade dormia. Nem o imenso sol da manhã, batendo clara de neve cor de rosa com as nuvens, abalava a imensidão do seu monólogo interior.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 12:48 0 comentários Enviar por e-mail
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domingo, 12 de dezembro de 2010MINICONTO 77 - viagem
O tapete era persa. Vermelho com arabescos dourados num ar de suspense. Antares entrou correndo e pisou sobre o mesmo, apressadamente. O tapete deslizou em direção de um imenso espelho com sua retina testemunhal. A viagem foi longa e fatalmente enigmática: "Onde está Alice? Onde está Alice?" Nem adianta Antares perguntar por ela. Os corredores do hospital não são as estradas do País das Maravilhas.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 01:29 0 comentários Enviar por e-mail
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MINICONTO 76 - theoricus
Jogaram tudo pela janela. Os dois lançaram o aparelho de televisão, a geladeira com muito esforço, a máquina de lavar, o jogo de poltronas, guarda-roupas, mesas, cadeiras, vasilhas, micro-ondas, computador, armários, etc. etc. etc. somando na rua com uma pilha de olhos arregalados. "Adeus sociedade maldita burocrática e capitalista! Vamos viver o resto de nossos dias no seio da Amazônia!" Disseram em única voz, marido e mulher. Só que o encurtamento da distância entre a era robótica e a idade da pedra lascada, não foi mais rápido que a ambulância do sanatório.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 00:50 0 comentários Enviar por e-mail
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domingo, 5 de dezembro de 2010MINICONTO 75
Então Jacó, ou melhor traduzido Thiago mostrou-me a figura congelada num canto. Avaliei-a anos 60. Seu uniforme, reproduzindo calça e jaqueta jeans, ainda estava intacto. Naquele ambiente frio, a criatura não compunha com nenhum dos presentes. Aproximei-me para percebê-la melhor. No blusão dezenas de botons invocavam todas as entidades perdidas, desde a cruz de malta, a caveira, slogans do passado, símbolos new age, marcas pop combinando com um cabelo récem cortado 1968 e um brinco. Delirava a Roberto Carlos, James Dean, Bob Dylan, Jesse James, Durango Kid e outros mais.
Nem motoqueiro, nem beatle, nem iê iê, nem novos baianos, não há como se encaixar a gélida criatura naquele espaço 2010. Ela olhou-me firmemente e compreendeu que o tempo não passara por dentro, mas transpassara por fora. Deu um sorriso pálido com uma desculpa: "É, acho que vou lá fora fumar um cigarro!". Apanhou a primeira rua à frente, fugindo com seus passos rápidos o mais depressa que fosse possivel para reencontrar-se consigo mesmo, sob o som de seus balangandans.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 14:13 0 comentários Enviar por e-mail
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MINICONTO 74
Rodrigo comemorou seu aniversário num lindo cerimonial. Mas convidou todo mundo, ou melhor seu universo equacional. Vamos chamar os convidados de A e B e pensar que A + B = F. Para adiantar, F significa felicidade. O grupo A não pára em lugar algum. Levanta, corre, escorrega, salta, rola. Para ele se apresentam os carrosséis, as girândolas, cavalos, esconde-esconde, jogos eletrônicos. O gupo B é aparentemente mais comportado. Só sabe brincar com a barriga. Encanta-se ao lado dos pratinhos de quitutes diversos e dos copos de bebidas. Os grupo A pertence às crianças que brincam com a alma, incluindo Matheus com oito meses. O grupo B engloba os adultos que só brincam comendo e bebendo. Estão ao nível da barriga.
A + B = F. A vale muito mais que B. A aumenta o valor da felicidade.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 13:45 0 comentários Enviar por e-mail
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MINICONTO 73
Jacó apontou-me uma das mesas do salão: "Olha lá a mala!". Respondi-lhe que já tinha visto. Inclusive observara vários cordões, pulseiras e relógios de ouro. A calça importadíssima com uma camisa italiana. Os sapatos imitando couro de crocodilo, mas de acordo com as normas de proteção dos animais. Só imitando. Tudo não passava de imitação. Exalar riqueza pelas aparências. A mala de vez em quando sorria e bebia um copo de sorriso. Não era fácil de carregá-la. Eu e Jacó escolhemos uma mesa bem distante da mala. A mala quando abria sua tampa de gargalhadas jorrava uma miríade de sofrimentos humanos, de seres que ela enganava, dos golpes de 171. Este era o selo da mala. Na vida, para subir, preferi os degraus da escada de Jacó.
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MINICONTO 72 - stella versus piscis
Pedrinho jogou sua linha de nylon pela janela do apartamento. Aguardou que a grande nuvem negra se movesse, para que ele pescasse mais uma estrela. Ontem ele pescou uma constelação inteira.
Enquanto todos riem, ele não está nem aí. Já sabe que são tantas bilhões de estrelas no céu, que terá uma vida inteira de pescador de astros. Além do mais, seu avô, vai todo dia à praia pescar. Nunca trouxe um peixinho pra casa. Só traz o seu sorriso e diz que o importante é jogar a linha, esperar e imaginar. O resto, o mar dá conta.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 11:06 0 comentários Enviar por e-mail
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MINICONTO 71
A borboleta entrou na sala e se transformou em Isadora Duncan. Trazendo nas mandalas de suas asas o sabor das brisas juntamente com o cetim de toda a natureza, começou a dançar descalça. Silas levantou-se, tomou-a em seus braços e juntos imitaram o desabrochar dos frutos no outono.
Feliz, no outro dia, escutou a voz macia de seu médico: "Tudo bem, você está melhor. Vamos diminuir duas miligramas em sua receita!"
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 09:37 0 comentários Enviar por e-mail
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MINICONTO 70
Cláudio já estava com as malas nas mãos. Pedro desabafou: "Embora cansado, você sempre se dispôs; embora doente, você nunca manifestou má vontade; embora incompreendido você ouvia e acatava; embora atarefado você tinha tempo para os outros. Por isto não vá embora!"
Todos os funcionários da repartição bateram palmas, naquele momento mágico da engraçada festa do amigo urso. Cláudio respondeu: "Embora eu não vá embora, vê se este ano, você manda o seu espírito de urso ir embora!"
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 09:25 0 comentários Enviar por e-mail
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MINICONTO 69 - epilogus
Retirou-a do banheiro toda molhada. Pendurou-a na janela. Ali seria o melhor lugar. Venha o vento, o sol, os pardais, os olhares curiosos, não importa. O trilho da cortina ofereceu um apoio resistente para que efetuasse com maestria esta operação.
Dentro de uma hora chegou a equipe médica para levá-lo a um centro de tratamento para especiais, onde teria uma outra mãe, desta vez vestida de branco, com o nome de enfermeira e que com certeza seria mais cautelosa para não se escorregar no piso do banheiro durante um banho.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 09:16 0 comentários Enviar por e-mail
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sábado, 4 de dezembro de 2010MINICONTO 68 - travessia
Marcos entrou apressadamente no quarto. Olhou para trás e a porta estava fechada do lado de fora no corredor. Enfiou as mãos no bolso e não havia trazido o molho de chaves, que constava a portaria embaixo, a grade e a porta da sala, que estavam também todas fechadas. E o carro, onde deixara? Olha através da janela fechada. Seu carro é um resto de latas amassadas, que não servem para nada. A não ser para uma exposição de arte moderna. Entra por um túnel, um labirinto, cada vez mais aumenta a velocidade e o ruído do som. Nada diferente do que havia visto no programa de tevê. Não pertencia mais àquela realidade.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 16:53 0 comentários Enviar por e-mail
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MINIPOEMA 15
Enquanto com suas
lágrimas ela adubava
um canteiro de tristezas
desbotadas e murchas,
também orava e pedia sol,
para iluminar as
sombras de suas amarguras.
O sol chegou num sorriso
e no canteiro se abriram
flores de ternura.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 03:33 0 comentários Enviar por e-mail
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MINIPOEMA 14
ENE A Ó TIL.
Só se entende
aqui no Brasil!
Um poema sem
tradução!
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 02:46 0 comentários Enviar por e-mail
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MINIPOEMA 13
Um gota,
uma cura.
Um olhar,
uma paixão.
Um átomo,
uma explosão.
Um micro,
um macro.
Uma pressão,
uma expansão.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 02:41 0 comentários Enviar por e-mail
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MINIPOEMA 12
Eu te amo,
tu me amas?
Ele te ama.
Nós nos amamos?
Vós amais,
eles se amam.
Postado por José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem às 02:39 0 comentários Enviar por e-mail
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José Luiz Teixeira do Amaral/Adameve El Salem
Escritor, poeta, inspirado pelas luzes dos antigos sábios e ensinamentos sagrados, herdados da Península Ibérica, através dos filhos de Abraão.
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